Nélida Piñon amava o nosso país, não apenas por ser brasileira, mas sobretudo por ter grande apego às suas raízes galegas e à ligação afetiva a Portugal, frequentemente associada a essa condição. Disse-mo pessoalmente, no final do século passado, quando a entrevistei para o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, a propósito do lançamento entre nós do romance A República dos Sonhos, onde a escritora contou a saga de Madruga, jovem camponês que deixa a Galiza natal para embarcar num navio com destino ao Brasil, esse eterno “país do futuro” (como lhe chamou o escritor Stefan Zweig), tendo ao lado o seu amigo Venâncio. Por causa dessa ligação ibérica, em junho último o Instituto Cervantes do Rio de Janeiro atribuiu o nome de Nélida à sua biblioteca, que passou também a acolher boa parte do espólio da escritora, com mais de sete mil peças. Cidadã do mundo, Nélida Piñon, que morreu este sábado em Lisboa, onde passou os últimos meses, tornou-se assim a primeira autora de língua não-espanhola a dar nome a uma biblioteca do Instituto Cervantes, organismo homólogo do nosso Instituto Camões que tem por missão promover o ensino da língua espanhola no mundo.
Fonte: www.dn.pt, 19 Dezembro 2022
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