—Por que decidiu comemorar seus 25 anos de música com esses 12 poemas?
Há um ano disse ao Armando González [escritor] que queria dedicar este disco à Galiza, falando dela como mulher, como país, como paisagem, como língua… Ele escreveu o tema de “Galicia nai” e então comecei a estudar diferentes poemas que gostaria que estivessem presentes. Por fim, são 12 poemas, dos quais musico oito.
Abre o disco “A fala”, de Manuel María, que já é uma declaração de intenções. Por outro lado, há muitos anos eu queria musicar Rosalía de Castro, então comecei a procurar poemas que ainda não estavam musicados ou que eram pouco conhecidos, por isso o álbum inclui “Pará min non” e “Miña almiña”. No entanto, também deixei bem claro que queria “Adiós ríos, adiós fontes” para fechar a obra, pois é cantado a partir do meu sentimento de pessoa que deixou a sua terra para chegar a outra que a acariciou e que agora considera também sua . E o último poema que incluo da Rosalía é “Sin niño”, porque também queria que fosse um disco bem fadista e neste caso consegui encaixá-lo num fado tradicional, a “Vianinha”.
O prólogo do álbum é da autoria de Xosé González e foi precisamente através dele que conheci a poesia de Xosé Velo, a quem toquei “Espranza” em homenagem, que acabou por se tornar outro tema deste trabalho. Por outro lado, eu conhecia Xosé Neira Vilas há anos e quando fui vê-lo conversamos sobre fazer algo juntos, então ele acabou me escrevendo uma dezena de poemas para musicar um ano antes de falecer. Não tinha tido oportunidade de as publicar antes porque me pareceu demasiado oportunista fazê-lo na altura e por isso incluo “Tres ríos” e “Así era eu” neste álbum.
O Ricardo Carvalho Calero também é um poeta de quem gosto há muito tempo e “Teño una dor” em particular transmite-me muita ternura e melancolia, assim tinha de ser. E, finalmente, além de “Galicia nai”, Armando González também escreveu A morada de bágoas, um poema muito cru que fala sobre a situação de abuso que tantas mulheres passam. Este foi um single que lançamos no dia 25 de novembro, mas já com a intenção de que fizesse parte deste álbum porque quanto mais cantarmos contra a violência de gênero, mais vamos conscientizar. São palavras que têm de ser ditas porque é o que acontece, não podemos encobrir nem adoçar. E o Armando’s é também o “Fado do Couto Mixto”, um espaço a que ambos estamos muito ligados.
Fonte: nosdiario.gal, 22 Março 2023
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